sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CO-EXISTÊNCIA


Quando eu nasci, não havia o tempo. Eu era um bebê. Aos bebês, o tempo importa tanto quanto tudo. Ou seja, nada.

Havia, sim, o nada. O vazio, o silêncio, o som: puro e translúcido. Luz e flor, ora vaporosa, ora interrompida. Pura, no deserto de si. Serena, trazia-me, em invisível movimento – imperceptível momento.

Como captar o momento exato, o em-si daquele instante em que tudo simplesmente coexistia, sem antes, depois, agora, já? As coisas flutuavam e pairavam, sem certezas nem espaço.

Naquele exato, não havia relações. Não havia eu nem você. Havia a lua a encher o todo. Eu acontecia, acontecendo. Mãe: inteira, cheirando a.

O fato é que eu: miragem em perspectiva, sem máscaras no meu transcender. Haver: impossível desertar-se. Em-si-sendo, para quando, para onde.

Com o tempo, fui sendo. Até que me tornei o próprio tempo. Sem ele eu não existo mais. Tenho posição, velocidade, começo e fim. Até crises eu já tive. Eu aconteço e estou.

Hoje, a única coisa que eu sei que sou. Tempo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poética


para lavrar a vida

palavra viva

lavra, lida

lava, edita
larga, evita
louva, levita

louca, levanta

rouca, reclama
pouca, declama

ouça!

ela me chama

Para não ficar


eu, leve
não me leve
estou aqui para voar

eu, neve
não me negue
não vou atrapalhar

eu, branca
não me espanta
só vim para dançar

eu, menina
não me ensina
quero só saborear

eu, viva
não me diga
vim só para lembrar

eu, sonho
tenho sono
não vim para ficar

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Você tem sede de quê?


Inventariar o infinito à procura de pressupostos equilibristas. O rosto polido de sensibilidades, oco como pergaminhos ao vento. O olhar enferrujado, rouca órbita recuada em seu querer deslizante. Querer: um quase. A lógica do bocejo é a inércia de um detalhe.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Eu, por onde, para onde...




Parque Nacional da Chapada das Mesas, MA - jan/2009

A natureza absoluta, pronominal. Águas invisíveis, sem pressupostos, ao vento, ao rio, às quedas. O belo que se esconde no fim, pro-fundo. Lugar suspenso. Energia, som, paisagem. Ali, juntos, o tudo e o nada.

Além-poesia


Parque Nacional dos Lençois Maranhenses - dez/2008

respiro a paisagem
ouço o vento
uivo vento
silenciosamente
eu céu areia
centelha
mar de areia
sol, só
dissolvo
sou voz
sem voz
eu-não
nada