sábado, 27 de novembro de 2010

Sábado


hoje: sem cheiro
somente gostos
cores, toques
o corpo: abstrato
compassado
o dia: íntimo
infinito
a manhã unânime
a tarde perfurada
a noite deserta
à vista: um sonho
 

sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre suores e andorinhas

Ontem, ao olhar pela janela, vi um naco de sol munido de vento. Juntos, peneiravam as andorinhas que abotoavam de voares o céu. Botões de todas as cores, que abriam e fechavam o manto da noite. Até que o céu suou, em novelos de estrelas. Estrelas que abriram e fecharam o verso do dia.

A Cidade


Arquipélagos-edifícios
áspero estalar de nadadeiras
por rios-ruas
onde carros
escafandros
exprimem-se, imprimem-se

pontes coalhadas de gente
como esponjas inundadas de noite
flores no asfalto
sorrindo-se
munindo-se do vento
sem tempo
sob esquifes: peneiras

Sobre montanhas e passos

Lá, onde os pés, o começo.

De novo o olhar na parede. Nunca consegue o lado de lá - ou simplesmente não chega. Bate e volta, bate e volta - por todos os lados.

Acho que preciso de férias. Ou de árvores. Ou montanhas. Sem muros. Sem paredes. Ou relógios. Onde não o começo nem o fim. Onde apenas: olhar.

Indo-se

Já encontrei o que eu queria.
Posso ir prá casa agora?

domingo, 7 de novembro de 2010

Halloween




noite gótica
luar abstrato

chão de umidescências
condescendências
labirintos de vagalumes
tudo se dilata
no olhar que amanhece

Musicando-se

quero derreter-me
até me transformar em poema
nada de carnes e pesos
apenas cheiros, cores, música
sentidos, palavras
sílabas lixadas, dilatadas
encolhidas, esticadas
até que enfim
sem fim
poesia

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Retecendo


prefiro o silêncio quando estou a costurar-me
o ano já se indo
os botões caídos têm de ser recolocados
os furos remendados
os fios soltos recolocados
comentários tecidos
é preciso trocar de roupa