sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

in media res

há algo que me prende à respiração
olho para o fim, enquanto meios
lamento passados
amanheço futuros

eu, hoje, aqui
para que depois?

olho e penso
difícil é apenas olhar
olhar sem ver, apenas sentir

para que o fim se ainda o meio?

domingo, 27 de novembro de 2011

Ser, Estar



para onde vai a conciência
quando eu não mais?
não sou, não és
o todo apenas corpo
inspirãção, expiração
quase movimentos
poucos sentidos
em tudo
já fui, não sou
estou apenas

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Espera

estou com preguiça de arrumar o mundo hoje
as pessoas vão indo embora, sem avisar
fica tudo no ar
a sonhar

sábado, 5 de novembro de 2011

Espuma


o menino de mim
olha para o infinito
como se 
o nada 

escurece-se
desfaz-se
esvazia-se
em adormecidas brumas 
 

Nuvens



nascem a manhã que eu
dançam a música que eu
penetram os versos que eu
cantam o dia que eu
bebem a água que eu
dormem o sonho
que eu?


sábado, 29 de outubro de 2011

Hora do almoço

mastigar
engolir
e derreter-se no todo

 

Som


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

(Cecília Meireles)

domingo, 16 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retiro


acabo de retornar de um retiro de revisitas
onde o silêncio de passarinhos e folhagens ao vento
velhas amizades em paisagens sem tempo
uma casinha, uma praia, muitas crianças
e o mar, a lagoa, as montanhas
pessoas infinitas no pequeno espaço de cada dia
volto a inspirar

domingo, 2 de outubro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Meu fim de semana




em casa a testar as receitas da vovó
(um dia vai ficar bom igual!)


LÍquida vida

o som que escorre no todo da imagem ensaiada do mundo
profundo fogo, medo de espreguiçar-se
há muita água no todo
tão líquido que não dá conta
o olhar divaga, escorre

sábado, 3 de setembro de 2011

Clara


vestida de vento
vestes vida
flor de fogo
fisga
alva ampara
vermelha altiva
sofrida clara

Pensa-mentos

cabeça, pulsa
não há sossego no pensar
o que me cabe
já é demais


olhar, divaga
demais de água
argila inacabada
medo de espreguiçar 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Hoje


tive um dia todo roxo
em tons de passarinho
com toques de estrelas
e cheiro de tinta

li um roteiro
pensei saudades
lembrei futuros

domingo, 31 de julho de 2011

domingo, 24 de julho de 2011

Palavra

há palavras que pegamos, acariciamos, mastigamos, sem nunca engolir

há aquelas que são de passar no corpo: sabões de cheiro, exalam, perfumam

há outras de superfície áspera, que não se deixam tocar por muito tempo


gosto muito das palavras que se abrem como túneis, para que nelas penetremos e possamos sair onde a luz

há também aquelas que são como patins: deslizam onde quer que as levemos


e outras que não se mexem, apenas sorriem e acenam para nós de onde estão


olhos onde espelhos, prismas, velas, lanternas, microscópios - microcosmos

FLIP 2011


acabo de chegar em casa
depois de visitas viagens impressões
palavras desenhos flores fotografias



minha visão preferida:
flores no telhado
para-ti



o poema não começa
o poema não termina
é preciso escrever

a primeira palavra
é um fim gratuito
tudo tem que terminar


      Ferreira Gullar

espaços que contam histórias 

inspirar
respirar etecéteras
engolir palavras
mastigar o tempo


totalmente inspirador

terça-feira, 5 de julho de 2011

Esconderijo

Trilha do Ouro - Parque Nacional Serra da Bocaina
1 a 4/7/2011

recém saída do mato para outro esconderijo

três dias 
corpo, respiração, mochila
músculos, pés, ombros
chão, pedras, barro
até que a cachoeira mais bonita

acampar ao lado do rio
eu, apenas corpo
olhos, som, cheiro
como as pessoas da serra
e nada mais

terça-feira, 21 de junho de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Adagio

não há rastros 
no olhar
é preciso ouvir
som, voz, música
pelo fundo
bem de dentro 

Aurora


rosto de lua cheia
enquanto o mar adormece
lusco-fios

dedos, mastigam 
retalhos de noite

luz, vestida de mar
luar

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pausa

 
Passei uma semana trabalhando no mato. Deu tempo de ver, de pensar, de olhar o chão, a terra, o céu. Até respirar de verdade eu pude. É como se uma grande porta, um silêncio em pleno horário comercial.

Ínfimo, íntimo

tudo é muito 
menor do que imaginamos
infinitamente mais simples

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobreviver

eu amanheço
tu choves
ele venta
nós trovejamos
vós escureceis
eles anoitecem

Peneiras

é preciso abastecer as pedras
empobrecer as margens
desgastar inexistências
encostar-se ao chão
sonhar recortes
entardecer retratos 
sorrir-se ao sol

Ah!





Bom é
constar das paisagens
como um rio, uma pedra

(Manoel de Barros)

Lembranças



"O entardecer do Negro tem todas as cores e nuances imagináveis. É a hora em que o rio conversa com Deus..."

(Vera do Val) 

domingo, 20 de março de 2011

Faculdade de Letras


Quando estava na faculdade, toda vez que lia um romance, fazia notas à margem. Sublinhava e anotava conceitos. O narrador incerto, metonímias, pedaços de Freud, o eu e o outro, teorias sem fim. (Des)Aprendi a encher os livros de pedras. 

Hoje, voltei a sonhar. Leio sempre e, por vezes, também anoto e sublinho.  Apenas as palavras que acho bonitas, que fazem meu corpo dançar, e minha pele sussurrar. Palavras que me fazem flutuar.
 

Sobre palavras e brinquedos

 Conversávamos em língua de brinquedo, degustando palavras. De repente, metade de mim mesma, nos longes do tempo. "Estou aqui e meia", pensei, "vou sair".
   Lá fora, silêncio. Vozes, eco, arrepios. Ânsia, cacos, unha, estômagos. Pausa. Alguém:
   - Que procuras?
   Aos poucos, falas intangíveis, pensamentos de canário. Entrei. Flor, palha, novelos. Desta vez, as falas eram de orvalho; as palavras, como olhos de luar, para longe de amanheceres.
   

Aula de Inglês

Vou te ensinar as palavras como se pinta um quadro. A língua através do corpo. Quer dançar?

segunda-feira, 7 de março de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

As borboletas



intangíveis
adormecidas
invisíveis
 

É preciso

espalhar a manhã
para amanhecer palavra 

engolir o silêncio
para entardecer passarinhos 

as vésperas são sempre coloridas
como o úmido horizonte das borboletas
quando cheiro de nuvem 

é preciso sair
para apanhar as cores

Ex-pirações



"São as coisas que a tristeza faz."

"Ele assinou com letra de nunca mais." 

(da peça A Árvore Seca, com Ester Laccava)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Olhos fechados

vende-se segurança:
a sua garantia
para poder confiar

vende-se confiança:
já posso vendar seus olhos?

olhe para mim no escuro
por que a surpresa?
 

Resposta

silenciar
ouvir
o vácuo
hospedar o outro
dentro de si
tirar os sapatos
pisar a terra
amaciar-se
e só então
falar 

Simples assim

a harmonia social depende de humildade, auto-controle, calor e positividade

que  cada um seja seu próprio mestre e seja co-responsável pelo todo

 

Volta às aulas

um sorriso
todos os sorrisos
o vazio
em silêncio
para o novo
 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O vento ao fim


Ushuaia, Argentina

mais perto de onde não o homem, não ninguém
tudo está mais quieto agora  


Glaciar Perito Moreno, El Calafate, Argentina

onde o sol rebate e reluz: água-luz
silêncio entrecortado por rachaduras de sol
vento a soprar, escavar brancuras de azul
pés deslizam em milimétricos cacos
espaços até onde nunca


  Glaciar Grey, Parque Nacional Torres del Paine, Chile

ventava muito, e nós perdíamos a noção do vento, para sermos pé e paisagem e silêncio e respiração. Até o fim, o lago, o azul, a praia, o vento, muito vento: convivento.



Parque Nacional Torres del Paine, Chile

respirar, cheirar, sentir
ver, fundir-se 
ter a paisagem dentro da travessia de si


Parque Nacional Torres del Paine, Chile

sai-se do dia para entrar no vazio
sentir o apenas e ser o que estamos
no exato momento em que nos esforçamos ao vento
sem o tempo, fora do tempo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Distâncias


na retirada, há pedaços faltando
há reticências que sobram
saudades de enovelar amanheceres
de tecer entre seres
de ser nó(s) 

Depois da travessia


de onde estou, só consigo tecer silêncios
reticências de mim
enfim, aonde