quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paredes



- Ah, corra e olhe o céu!
- E se não houver céu? Daqui de dentro não vejo o céu.
- Então corra e olhe o mar!
- Mais impossível do que o céu, o mar.
- Então pelo menos não corra e sinta o ar.
- Não há tempo para céu, mar, ar. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um dia





pequenos gestos
pequenos encontros
pequenas palavras
pequenos sons
pequenas imagens
pequenas conversas
pequeno, o mundo
pequena, a vida
(tudo muito mais simples)
e todo o resto fez sentido

domingo, 15 de julho de 2012

Inverno

hoje, reguei aquele sonho, já verde broto
à espera, de que o sonho

Releituras



"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé"


(Antoine de Saint-Exupéry)

Por entre areias...

anos depois
dez 
para ser exata
encontrei uma carta
no baú
desmemórias
havia mágoa, havia dor
escrevi uma resposta
e uma flor
recebi um sorriso
havia abraço, havia amor



Ensaio sobre uma cegueira



Escrevo à luz de velas, em noite em que não há lua cheia. Faz muito frio lá fora.

Perdi meus óculos. Quebrei-os, estilhaçados no mármore cinza do quarto. Lente de vidro, despedaços ao mínimo toque.


Agora escrevo bem de perto. Por enxergar muito pouco, tenho que fechar um dos olhos e encostar meu nariz no papel para que acompanhe o movimento da caneta tinteiro.


Vejo cada palavra que se desenha na folha limpa. Dança de traços nítidos, embaraçados e imprecisos ao longe. Percebo bem o que escrevo à margem esquerda, mas vejo nuvens à direita.


Enxergo apenas a pena que percorre o papel; o corpo da caneta se perde nas brumas do não enxergável.


Mas queria apenas dizer, dançando, que hoje a lua sorriu para mim, e com sua luz empalhei o mundo.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Finalmente, eu ando


Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?

(Adriana Calcanhoto)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Toc, toc, toc



o vazio é aqui?
a saudade é aqui?
o amor é aqui?
e o som?



Evanescências

Sua imagem desfia-se, aos poucos, em minha memória. Quanto mais penso, mais vejo cacos, farpas, restos do que um dia. Fotografias evanescentes, pedaços de história, não mais abraços. Seu nome me soa sem vogais, inaudível, incompreensível.

Vírgulas

se menos um sorriso
se, ao menos, um sorriso
se ao menos um, sorriso
sê ao menos um, sorriso
sê, ao menos, um sorriso
senão, menos um sorriso
senão menos um, sorriso
se não menos um, só riso

quarta-feira, 21 de março de 2012

Estômago

há muita espera na respiração
quero correr
mas as pernas andam
os pássaros cantam
as flores dançam

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Por causa de um bigode



O relógio está certo. Há uma nuvem de dúvida enquanto ele chega. Já chegou? Estou aqui, na fotografia. Uma bosta! A gente precisa de publicidade. Mesmo meu pai, por causa de um bigode. Talvez fosse eu dentro do figurino. Há gente que só faz isso por causa de um bigode. Não vai dar para todos. Se chover eu não quero. No começo ele fala por causa de um bigode. Caso aconteça alguma coisa a morte continua a vida dela. Por causa de um bigode. A coisa mais idiota do mundo é um jato só.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Distâncias




Encontros - Australia, dez/2011-jan/2012

às vezes é preciso muito pouco 
para que tudo esteja tão perto
alguns desvios
pontes
estradas
passados
afinidades
eternidades